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O triunfo da Vida é a criação


Pintura de Joseph

A criação de si mesmo por si mesmo é um esforço doloroso, mas é também precioso, ainda mais precioso do que o trabalho que dele resulta, porque, graças a ele, extraímos de nós mesmos mais do que havia, nos elevamos ao nível mais alto.

 

Esse esforço não teria sido possível sem a matéria: pela resistência que ela oferece e pela docilidade onde podemos levá-la, ela é ao mesmo tempo o obstáculo, o instrumento e o estímulo; ela testa a nossa força, guarda a sua marca e mantem a sua intensificação.

 

Os filósofos que especularam sobre o sentido da vida e o destino do humano não perceberam, suficientemente, que a própria natureza se deu ao trabalho de nos informar sobre isso. Ela nos mostra, com um sinal preciso, que o nosso destino foi alcançado.

 

Este sinal é a alegria. ALEGRIA, não o prazer. O prazer é apenas um artifício imaginado pela natureza para obter do Vivente a conservação da Vida. Ele não indica a direção para onde a Vida está sendo lançada. Mas a ALEGRIA sempre anuncia que a vida foi bem-sucedida, que ganhou terreno, que conquistou uma vitória: toda grande ALEGRIA carrega em si um tom triunfante.

 

Ora, se levarmos em conta esta indicação e se seguirmos essa nova linha de fatos, descobrimos que onde há ALEGRIA, há criação: quanto mais rica é a criação, mais profunda é a ALEGRIA.

 

A mãe que olha para o filho fica alegre, porque tem consciência de tê-lo criado, física e moralmente. O comerciante que desenvolve o seu negócio, o gerente de fábrica que vê a sua indústria prosperar, está feliz com o dinheiro que ganha e com a notoriedade que adquire? A riqueza e a consideração desempenham, obviamente, um papel importante na satisfação que ele sente, mas elas lhe trazem mais prazer do que alegria, e o que ele saboreia da verdadeira alegria é a sensação de ter criado um negócio que funciona, de ter dado vida a algo.

 

Nas alegrias excepcionais como a do artista que realizou seus pensamentos, a do cientista que descobriu ou inventou, ouviremos dizer que esses humanos trabalham pela glória e que a maior alegria deles é a admiração que eles inspiram. Erro profundo! Nós valorizamos elogios e homenagens na mesma medida de não termos certeza de ter conseguido.

 

Se em todas as áreas, o triunfo da vida é a criação, logo, não devemos supor que a vida humana tem a sua razão de ser em uma criação que pode, ao contrário da do artista e do erudito, continuar em todos os momentos e em todos os humanos, ou seja, a criação de si mesmo por si mesmo, a ampliação da personalidade por um esforço que tira muito do pouco, alguma coisa do nada, e acrescenta constantemente ao que existia, riqueza ao mundo?

 

Texto de Henri Bergson (1859-1941), traduzido por Mara Welferinger.

 Pintura de Joseph Mallod William Turner (1775-1851)

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