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Antes das nossas diferenças: as palavras-chave do Vivente

Atualizado: 3 de dez. de 2023


Figuras geométricas projetadas

Differentes pontos de vista


Ilumine um cilindro de cima, a sombra projetada é circular. Ilumine o mesmo cilindro lateralmente, sua sombra projetada é angular. Portanto, trata-se do mesmo cilindro.


O psicoterapeuta Viktor Frankl falou que as sombras projetadas de objetos tão diferentes como um cilindro, um cone, uma esfera, possuem uma forma circular idêntica quando a fonte de luz é comum (1). O mesmo ocorre se aceitarmos questionar-nos sobre nossa realidade viva, antes de nossas diferenças, de nossas culturas específicas.


Segundo os termos do antropólogo Gregory Bateson, nossa “unidade sagrada”, nosso tronco comum, é regido pelas leis fundamentais do Vivente. Estas leis permanecem válidas, independentemente do peso da nossa história e independentemente da distância imposta pela influência das nossas culturas (indivíduos, família, empresa, grupo, nação etc.).


Quais são essas leis que permitiram que a vida sobrevivesse por bilhão de anos?

Quais são os mecanismos fundamentais que presidem a estruturação e a atualização de nossas potencialidades em um ambiente em constante mudança? Que referenciais nos permitem discerni-los? Quais os pontos de apoio para respeitá-los? Como nos aproximarmos da inteligência e das condições naturais de sobrevivência, adaptação, transformação que até hoje organizam o desenvolvimento da vida em nosso planeta? Qual é esse patrimônio comum dos organismos vivos que esquecemos de mencionar? Quais são as lições que podemos aprender com os seres vivos?


Nós podemos considerar que quatro palavras-chave englobam os atos fundamentais dos organismos vivos sejam plantas, insetos, mamíferos ou humanos. Essas palavras são, de fato, comuns a filogênese (história da espécie) e a ontogênese (história do indivíduo).



As palavras-chave do Vivente


A primeira palavra-chave é conectar. O ato de se conectar é o próprio fundamento da vida. A sobrevivência de qualquer espécie depende da qualidade de conexão que ela estabelece com seu meio ambiente, com os outros e consigo mesma. Nossos cérebros, nossas inteligências, nossas memórias, nossas linguagens estão constantemente em atividade, conectadas. A violência surge de situações de não-conexão, os erros surgem de conexões inadequadas.


Outra palavra-chave: devir. A história do nosso cérebro nos ensina que abrigamos três e até quatro cérebros(2): um cérebro reptiliano. Um cérebro mamífero, um córtex associativo e, segundo o neurologista russo Lúria, lobos frontais, cujo papel é essencial para a nossa memória, nossas capacidades de antecipação e de estruturação. Cada um desses cérebro tem exigências, cada um uma lógica, colocando em movimento, de uma maneira específica, nossas percepções e nossas ações. Sem separações, sem estatismo, sem linearidade no Vivente, mas, fluxos, ritmos, trocas, transformações, renovações em permanência.


A terceira palavra-chave é reconhecer. Duas horas após o nascimento, a criança reconhece o rosto, a voz e o cheiro da mãe, a voz do pai, o toque de um tecido. Reconhecer implica perceber, memorizar, comparar, expressar. O reconhecimento requer o diálogo do contextos interno e externo.


A quarta palavra-chave é reorganizar. Efetivamente, em coerência com as palavras-chave precedentes, já não é mais possível pensar que aprender (o mais justo equivalente de “viver”) consiste em acrescentar saberes uns aos outros. Poque existem interfaces entre a realidade e nos (nossas emoções, nossas linguagens, nossas representações, nossas imagens, nossas memórias, nossas crenças, nossa história), nós reorganizamos o que sabemos a cada nova conexão. Nós reestruturamos nossos conhecimentos.



Colocando em perspectiva


Identificar, desenvolver, estimular, manter esses atos fundamentais do vivente permite abrir um vasto canteiro onde é possível mudar o enfoque que nossas preferências, nossos hábitos, nossas convicções costumam fazer sobre nossas diferenças e, assim, atestar essa unidade subjacente, presente, certa, capaz de trazer uma nova seiva para as nossas trocas e nossos engajamentos.


(Texto de Hélène Trocmé-Fabre - Tradução: Mara Welferinger).


1 Charles Hampden-Tuner, O Atlas do nosso cérebro, as grandes vias do psiquismo e da cognição. Les Editions d’Organisation, 1990. 2 Segundo a teoria de Paul MacLean, a natureza nos dotou de um cérebro reptiliano, um cérebro límbico ou afetivo e um neocórtex que preside nossas atividades de conexões sensoriais e linguísticas. O neurologista russo Alexander Luria atribui aos lobos frontais o papel de um quarto cérebro, papel essencial para nossa memória, nossa identidade e nossas capacidades de antecipação et de estruturação. Cf. Hélène Trocmé-Fabre, Aprendo, logo existo. Les Editions d’Organisation, Poche, 2002.


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1 Comment


Júlia Sena
Júlia Sena
May 28

que publicação incrível!


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